Falta de tomógrafos e insumos prejudica atendimentos no Walfredo

O Hospital Walfredo Gurgel, principal unidade de urgência e trauma do Rio Grande do Norte, enfrenta mais um colapso nos atendimentos. Com tomógrafos quebrados, exames de imagem estão suspensos, enquanto profissionais da saúde denunciam a falta de insumos até para procedimentos básicos. Em nota, a Secretaria de Saúde Pública (Sesap) informou que, após a quebra dos equipamentos, a empresa responsável pela manutenção foi acionada. A previsão é de que os exames retornem na unidade no máximo até quinta-feira (18).
O presidente do Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed/RN), Geraldo Ferreira, informou que a rotina no Walfredo Gurgel é marcada por sobrecarga, improviso e estresse constante. Faltam itens elementares como luvas, gazes estéreis e antibióticos adequados para o tratamento de infecções graves. “Nós convivemos diariamente com essa situação. E tudo isso eu não vou nem colocar no ponto de vista psicológico, que isso aí é degradante para o médico. Eu quero colocar do ponto de vista ético, que a gente já está ultrapassando a fronteira da ética, aceitando trabalhar em ambientes que não têm condições do correto tratamento ao paciente”, denunciou.
Ele ainda revela que há denúncias de profissionais que atuam no Hospital Walfredo Gurgel relatando situações graves de improviso devido à falta de insumos. Em um dos casos, médicos teriam sido obrigados a realizar drenagem de tórax em uma criança utilizando sondas nasogástricas, devido à ausência do dreno torácico apropriado.
A situação da unidade tem gerado indignação entre os profissionais da saúde, sindicatos e pacientes. A diretora do Sindicato de Saúde (Sindsaúde/RN) e técnica de enfermagem, Elizabeth Teixeira, denuncia a precarização na estrutura do hospital: “O Walfredo Gurgel atende até o máximo. Aqui é conhecido, ‘Walfredo Gurgel, o gigante salva-vidas’. Porque aqui se salva a vida. Mas, infelizmente, não tem o olhar de responsabilidade do poder público. É uma realidade terrível”, declarou.
Outro ponto crítico destacado por ela é a falta de alimentos tanto para funcionários quanto para acompanhantes, que compromete o bem-estar e a dignidade no ambiente hospitalar. Segundo Teixeira, faltam não apenas insumos médicos, mas também recursos humanos e itens básicos do cotidiano hospitalar: “Em geral, quem trabalha no Walfredo Gurgel hoje trabalha sob pressão. Você já vem trabalhar sabendo que não tem seu alimento. Já trabalha com a falta de insumos”, relatou.
O drama dos pacientes e acompanhantes também é evidente. Vanessa Pereira acompanhava seu patrão, que sofreu um AVC e precisou ser transferido para o Hospital Deoclécio Marques de Lucena, em Parnamirim, por falta de tomógrafos no Walfredo Gurgel. O paciente ainda vai precisar passar por um procedimento cirúrgico. “A enfermeira disse que deixou de fazer uma cirurgia, porque não tem gaze no hospital. É uma situação muito complicada e difícil”, disse Vanessa, enquanto aguardava a transferência na porta da unidade. Os dois tomógrafos do hospital estão quebrados.
O maqueiro Matheus Fernandes confirma a precariedade da infraestrutura e a escassez de materiais essenciais no dia a dia do hospital. “Está faltando quase tudo. Está faltando gaze, esparadrapo, equipamento para centro cirúrgico. Tudo que é essencial no hospital está faltando”, revelou.
No setor de queimados, a realidade não é diferente. O médico Marco Almeida, coordenador do Centro de Tratamento aos Queimados do Hospital Walfredo Gurgel, afirma que o problema é histórico e afeta todos os setores. “Isso é crônico, todos os setores da unidade são assim”, afirmou.
O presidente do Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed/RN), ao comentar a situação do mesmo setor, reforça o colapso: “O centro hoje que está com os pacientes nos corredores enquanto a sala de cirurgia está tendo procedimento de queimados. É indigno o trabalho que está sendo prestado”, lamentou.
Terceirizados entram em greve
Nesta quarta-feira (17), trabalhadores terceirizados do Hospital Walfredo Gurgel realizaram um protesto em frente à unidade e deflagraram uma nova greve. A paralisação atinge setores fundamentais do hospital, como transporte de pacientes (maqueiros), alimentação (cozinheiros e equipe de nutrição) e lavanderia hospitalar (lavadeiros), todos vinculados a empresas terceirizadas contratadas pelo Governo do Estado.
Os profissionais denunciam três meses de salários atrasados e afirmam que estão há oito meses sem receber o vale-alimentação. Em meio ao protesto, os terceirizados cobravam respostas da Sesap e das empresas responsáveis pelos contratos, mas afirmam que, até o momento, não houve nenhuma sinalização concreta sobre prazos para pagamento.
“Todo mês a gente faz greve. Mesmo assim não muda. É um descaso. Fingem que somos invisíveis”, disse Matheus Fernandes, maqueiro.
Foto: Magnus Nascimento
Tribuna do Norte