Redes de ensino enxergam impacto positivo após proibição de celulares

Escolas do Rio Grande do Norte começam a perceber melhorias no desempenho dos alunos após a adoção das novas regras que proíbem o uso de celulares em sala de aula. A medida segue a lei federal que proíbe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis pessoais durante as aulas e nos intervalos, exceto quando para fins pedagógicos.
Antes mesmo da regulamentação nacional, o Governo do RN já havia sancionado uma lei estadual com o mesmo objetivo: restringir o uso dos celulares em sala de aula. A Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e do Lazer (SEEC) informou que os relatos vindos das equipes gestoras da rede estadual têm sido positivos quanto à aplicação da medida: “Professores e gestores apontam maior foco dos estudantes nas atividades pedagógicas e mais engajamento nas rotinas escolares”, disse em nota.
Pela lei, ainda é permitido utilizar o celular como ferramenta pedagógica. No CEEP Lourdinha Guerra, escola técnica da rede estadual de ensino, o celular é muito utilizado como instrumento de apoio, já que os cursos oferecidos são técnicos, voltados à área de informática e computadores. Conforme o diretor da escola Raphael Bender, a instituição adotou uma caixinha para retirar os celulares dos alunos em caso de uso indevido.
De acordo com o gestor, desde a implementação da medida, houve uma melhora significativa na atenção dos alunos, que estão mais participativos e com menos distrações durante as atividades escolares. “É possível ver uma melhora na atenção em sala de aula, melhora na participação dos estudantes”, disse o coordenador.
Para ele, os efeitos do uso excessivo de celulares vão além do momento em que o aparelho está ativo em sala de aula. “O impacto do celular não é somente no momento de uso na sala de aula, mas durante todo o dia dos estudantes. Toda aquela intencionalidade que ele tem de estar olhando o celular, de estar buscando informação”, revelou o educador.
Ele ainda explica que somente essa medida não é suficiente para resolver o problema do vício de atenção causado pelos aparelhos celulares. “Essa medida é fundamental, mas ela é insuficiente. A gente precisa de conscientização, ter essa noção de uma imunidade digital”, disse o diretor, que defende o uso equilibrado dos celulares em todas as áreas da vida.
Nickolly Dhuanne é aluna do curso de informática no CEEP e relata ter diminuído o tempo de uso. Ela explica que era complicado dividir o tempo entre os estudos e o celular na escola. “Acaba que a gente não tem mais tempo para ficar no celular”, disse a aluna da primeira série.
Yana Eliene, também aluna da primeira série de informática, percebeu que se concentra melhor sem o celular. “Sempre quando eu vou estudar, eu evito o celular, porque qualquer coisinha distrai. A notificação de alguma coisa, a gente vai logo abrir outro aplicativo e acaba se distraindo”, explicou.
A SEEC informou que o impacto concreto dessa medida será mensurado ao término do ano letivo, quando haverá consolidação dos indicadores de aprendizagem e convivência escolar.
No Colégio CEI, nunca houve liberação total do uso de telas ou celulares durante o horário escolar. De acordo com a gestão da escola, o controle é feito com bastante rigor, especialmente a partir do Ensino Fundamental II, onde há incidência de tentativas de uso indevido. “Eles entregam na primeira aula e devolvem na última aula. Então, não estar com o celular ao seu lado diminui a ansiedade. Isso é perceptível”, disse a diretora-geral e pedagógica do Colégio CEI, Cristine Rosado.
No Colégio Marista, os educadores também percebem um avanço na qualidade da aprendizagem dos alunos. A orientadora educacional do Ensino Médio, Ana Caroline Ferreira, conta que os alunos têm aprendido melhor. “Os alunos tiveram esse impacto por não poder mais fotografar nem o caderno, nem o quadro. Agora eles têm que escrever tudo no caderno”, disse.
A educadora relata que alguns alunos chegaram ao ensino médio com dificuldade na escrita, ainda apresentando letras ‘caídas’, fruto da falta de prática em escrever no papel.
A equipe escolar do Marista orientou as famílias, bem como os próprios alunos, sobre a não utilização do celular. Ainda assim, alguns estudantes o trazem consigo, mantendo-o guardado na mochila, para utilizá-lo apenas após a saída da escola.
“Melhorou muito a participação deles. Até a interação. Porque antes tinha um silêncio, mas era o silêncio, porque eles ficavam focados no celular. Pensando em outras coisas. Hoje a gente tem salas barulhentas”, compartilha a coordenadora que descreve uma melhora na socialização.
Intervalos com mais socialização
Para a diretora-geral do CEI, o impacto na socialização foi ainda maior que nos estudos. “Os alunos voltam a brincar, voltam a dialogar, eles voltam a conversar. O intervalo é rico de interações sociais”, disse.
No CEI, a coordenação entrega jogos de tabuleiros para os estudantes interagirem. Os alunos jogam futebol e conversam muito. “Eles estão sempre em coletivo e não mais individualizados com a tela no rosto”, disse.
A coordenadora do Marista afirmou que houve uma melhora significativa na socialização entre os alunos: “Na escola, promovemos diversas atividades com o totó, com a sinuca, e os próprios alunos passaram a trazer jogos de cartas e outros tipos de jogos para utilizarem durante o intervalo”, explicou Cristine Rosado.
O CEEP é uma escola em tempo integral e, por isso, o uso do celular não é completamente proibido, mas controlado. Ainda assim, é possível perceber uma diminuição no uso fora das atividades pedagógicas: “A gente olha os intervalos e vê os alunos socializando. Tem um ou outro jogando. Mas, geralmente, jogando em equipe”, revela Raphael Bender.
Foto: Magnus Nascimento
Tribuna do Norte