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Rio Grande do Norte
03 dez

Fim da exigência de autoescolas vai gerar demissões em massa no RN, afirma setor

Fim da exigência de autoescolas vai gerar demissões em massa no RN, afirma setor

A decisão do Governo Federal de acabar com a obrigatoriedade dos cursos de formação em autoescolas para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) representa, na avaliação do setor, o colapso de um mercado inteiro. A mudança, que acaba com a exigência de aulas práticas e transfere a parte teórica para uma plataforma digital do governo, provoca o que empresários classificam como uma “nova pandemia” entre os Centros de Formação de Condutores (CFCs).

A previsão do setor é de demissões em massa, fechamento de empresas e desestruturação de toda a cadeia econômica que orbita em torno da formação de motoristas.

Presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores do Rio Grande do Norte (SindCFC-RN), Eduardo Domingo afirma que os impactos começaram antes mesmo de a decisão ser oficializada pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) – o que aconteceu na última segunda-feira 1º, por unanimidade.

“Já impactou. Desde julho, quando o ministro dos Transportes, Renan Filho, começou a divulgar que poderia fazer essa modificação, o movimento das autoescolas caiu 80%, 70%”, afirmou Eduardo, em entrevista à rádio Jovem Pan News Natal nesta terça-feira 2. “Eu vou te dizer: a gente vem vivendo uma nova pandemia no setor.”

De acordo com Eduardo Domingo, o setor perdeu alunos, faturamento, previsibilidade e segurança jurídica. Para ele, houve uma exposição precipitada, sem diálogo e com graves consequências. Na avaliação do dirigente, a estratégia deixou as empresas em completo abandono. “Ele botou as autoescolas à deriva”, afirmou o empresário, em referência a Renan Filho.

O cenário projetado é de colapso em escala nacional. Segundo Eduardo Domingo, o País possui cerca de 15 mil autoescolas. Caso a resolução seja mantida, esse número não deve resistir. “Não fica mil”, afirmou.
No Rio Grande do Norte, o impacto também será devastador. “Aqui no Rio Grande do Norte são 120 autoescolas. Se ficar 30, é muito”, projetou.

O presidente do sindicato descreve o futuro do setor como uma sequência de fechamentos inevitáveis: “Não pense que a qualquer momento uma autoescola vai fechar a porta e não vai abrir mais porque o proprietário é velhaco ou é trambiqueiro. É porque não se tem mais dinheiro.”

“O governo nos matou em pedaço, como quando tem diabetes. Te comeu um dedo, te comeu o pé, te comeu a perna, te cegou. Isso foi o que o ministro Renan Filho fez. Desde julho ele vem fazendo isso.”

O impacto mais imediato será no emprego. O sindicato estima que cada autoescola emprega, em média, dez trabalhadores. O fechamento das empresas provoca um efeito direto na renda de milhares de famílias. “No RN, somos 120 autoescolas. Se a gente botar aí dez colaboradores por autoescola, nós vamos a 1.200 trabalhadores”, explicou.

A projeção é dramática: “Desses, 950 nós vamos demitir.” Ou seja, quase 80% dos empregos diretos do setor estariam condenados.

O impacto não se limita aos instrutores e funcionários administrativos. A cadeia vai além: despachantes, psicólogos, clínicas médicas, oficinas, empresas terceirizadas de prova prática, fornecedores, gráficas e profissionais de tecnologia também devem sofrer. Trata-se, segundo a entidade, de um desmonte completo de uma estrutura que levou décadas para ser construída.

Para Eduardo, a justificativa de que a CNH é cara não se sustenta. “A habilitação não é um documento, que nem uma carteira de identidade. A habilitação é uma profissão.” Ele compara o custo da CNH com cursos superiores: “Um curso de jornalismo custa seis, sete mil reais. Uma habilitação custa dois mil.”

E questiona: “Como é que eles dizem que não têm dinheiro para habilitação, mas têm pra comprar moto, carro e iPhone?” Segundo ele, o investimento retorna rapidamente: “Dois meses, três meses com aplicativo, e já recupera. Um curso superior leva anos.”

Para o sindicato, o sistema público não tem estrutura para absorver o aumento de candidatos fora das autoescolas. “O Detran não tem vaga. Hoje tu termina as 20 aulas e só faz o exame em março.”

Com a nova regra, Eduardo alerta: “A enxurrada de alunos vai triplicar. Não tem como absorver.”

Medida também vai provocar retrocesso no trânsito, aponta empresário
Eduardo Domingo critica a mudança por considerar que o Brasil está voltando a um modelo ultrapassado e perigoso. “Trazer isso de volta dos anos 1980 para agora em 2025 é um retrocesso.”

A nova regra reduz as aulas práticas obrigatórias de 20 para apenas duas horas. Nessas aulas, o aluno poderá usar carro particular e optar por aulas com um instrutor autônomo, credenciado pelo Detran. Já as aulas teóricas deixam de ser presenciais e passam a ser digitais.

Para o presidente do sindicato, não há como garantir qualidade nesse modelo: “No meu ponto de vista, é zero qualidade. Tu não tem como avaliar uma pessoa em duas aulas.” Ele lembra que mesmo com 20 aulas havia risco. “Eu, quando era instrutor, achava que a pessoa não tinha condições, mas eu não podia impedir. Agora imagina com duas”.

Eduardo também relaciona a medida ao agravamento do caos no trânsito e sobrecarga do sistema de saúde. “Quando começar a dar os acidentes, a responsabilidade é dele. Foi ele que criou isso aí”, disse referindo-se ao ministro dos Transportes, principal defensor da medida.

Para ele, o custo da economia na formação será muito maior nos hospitais: “O que o ministro está fazendo de economizar aqui vai gastar muito mais lá no SUS. Podem escrever o que eu estou dizendo.”

Segundo Eduardo, o impacto será inevitável: mais motoristas despreparados, mais vítimas e mais custos.

O dirigente foi enfático ao afirmar que o setor não foi ouvido em nenhum momento. “Não aconteceu diálogo. E isso que é a grande mágoa da categoria.” Ele relata que houve protestos de todo tipo: “A gente foi a Brasília várias vezes, procurou deputados, fez audiência pública, fez carreata, fez paralisação, fez tudo, e o governo nunca nos atendeu.”

A insatisfação também atinge o presidente da República: “O que vier daqui para a frente a culpa é exclusiva do ministro Renan. E do presidente Lula, que abonou ele.”

Agora RN

Campo Forte

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