Hamas rejeita se desarmar e prepara ocupação de áreas cedidas por Israel

Após fechar o acordo sobre a primeira fase do cessar-fogo com Israel, o Hamas convocou neste sábado, 11, 7 mil militantes para reassumir o controle de áreas de Gaza desocupadas pelos israelenses. Um líder do movimento islamista palestino, em entrevista à France Presse, disse que o desarmamento do grupo está “fora de discussão”. As duas posições, no segundo dia de trégua, podem complicar a implementação das próximas etapas do plano de paz de Donald Trump.
“A proposta de entregar as armas está fora de discussão e não é negociável”, disse o alto funcionário, sob condição de anonimato. Segundo o presidente americano, o desarmamento do Hamas seria abordado na segunda fase do plano, que prevê, além da desmilitarização do grupo terrorista, sua exclusão de qualquer governo futuro do território.
Em entrevista ao Estadão, na semana passada, Michael Milshtein, chefe do Fórum de Estudos Palestinos do Centro Moshe Dayan, da Universidade de Tel-Aviv, já tinha descartado tal possibilidade. “O Hamas diz que Deus está com aqueles que são pacientes. Eles sabem que agora é um momento de contenção, mas vão voltar no futuro”, afirmou.
Reunião
De acordo com a rede britânica BBC, o Hamas nomeou cinco novos governadores para as regiões desocupadas, todos com experiência militar, alguns dos quais comandaram brigadas de seu braço armado, para supervisionar as operações.
A ordem teria sido emitida por meio de telefonemas e mensagens de texto, que convocavam “uma mobilização geral” para “limpar Gaza de foras da lei e colaboradores de Israel”. Os militantes deveriam se apresentar entre sábado e domingo.
Na quinta-feira, após aprovar o plano de cessar-fogo, o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que não faria concessões sobre o desarmamento do Hamas e a desmilitarização de Gaza.
“Se isso for alcançado da maneira fácil, melhor. Caso contrário, será feito da maneira difícil”, disse.
Futuro
Na sexta-feira, Trump ainda demonstrou otimismo com o plano e disse que, “na maior parte”, há consenso sobre as próximas etapas, mas admitiu que “alguns detalhes ainda precisam ser resolvidos”. Ele deve discutir o assunto na cúpula de amanhã em Sharm el-Sheikh, no Egito, com Emmanuel Macron, Pedro Sánchez, Giorgia Meloni e Friedrich Merz, além de representantes e diplomatas de países árabes e islâmicos.
O chefe do Comando Central dos EUA (Centcom) afirmou no sábado que visitou Gaza para discutir a estabilização pós-guerra e insistiu que nenhum soldado americano pisará no território palestino.
O almirante Brad Cooper disse que o objetivo é “apoiar a estabilização do conflito”. Steve Witkoff e Jared Kushner, enviados de Trump ao Oriente Médio, também estiveram na comitiva.
Parte dos 200 soldados americanos já chegaram a Israel para ajudar no recebimento dos reféns e monitorar o cessar-fogo.
Os militares dos EUA coordenarão uma força-tarefa multinacional com tropas de Egito, Catar, Turquia e Emirados Árabes.
Enquanto isso, Israel começou a transferir prisioneiros palestinos para duas prisões, antes de trocá-los pelos reféns.
A expectativa é que 2 mil palestinos sejam trocados por 20 reféns vivos e pelos corpos de 28 israelenses, segundo o serviço penitenciário israelense.
Retorno
Mais de 500 mil pessoas já haviam retornado à Cidade de Gaza desde sexta-feira, após o anúncio do cessar-fogo, segundo Mahmoud Basal, porta-voz da agência de ajuda humanitária do Hamas.
O exército israelense alertou que algumas áreas no norte do território palestino ainda permanecem “extremamente perigosas”.
A defesa civil de Gaza disse que recuperou 150 corpos dos escombros desde o início da trégua — 9,5 mil palestinos ainda estão desaparecidos.
Imprensa
Aproveitando o fim das hostilidades, correspondentes internacionais em Israel pediram acesso imediato a Gaza, juntando-se a organizações de imprensa que exigem entrada no território devastado.
Em comunicado, a Associação de Imprensa Estrangeira (FPA) pediu que Israel “abra imediatamente as fronteiras e permita o acesso livre e independente da mídia internacional à Faixa de Gaza”, agora que as hostilidades se encerraram.
Israel começará a libertar os palestinos detidos em prisões israelenses assim que o retorno de todos os reféns mantidos em Gaza for confirmado, disse uma porta-voz do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, neste domingo (12). “Os prisioneiros palestinos serão libertados assim que Israel receber a confirmação de que todos os nossos reféns, que serão libertados amanhã, cruzaram a fronteira para o território israelense”, disse a porta-voz Shosh Bedrosian à imprensa.