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Saúde
13 jul

Hepatites virais: Julho Amarelo alerta para doenças silenciosas que podem evoluir para câncer de fígado

Hepatites virais: Julho Amarelo alerta para doenças silenciosas que podem evoluir para câncer de fígado

As hepatites virais são doenças silenciosas e ainda subdiagnosticadas no Brasil e no mundo. Julho é o mês em que o fato ganha destaque global com a campanha nacional Julho Amarelo e o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais (28/07), duas ações que visam a conscientização sobre um problema considerado questão de saúde pública pela Organização das Nações Unidas (ONU). A informação pode salvar vidas e ajudar no controle de uma das principais causas de cirrose e câncer de fígado ao redor do planeta.


As hepatites virais são infecções que atingem o fígado e podem causar alterações leves, moderadas ou graves nos indivíduos. No Brasil, existem três tipos mais comuns, a hepatite A, a hepatite B e a hepatite C. As hepatites do tipo A e B possuem vacinas disponíveis de forma gratuita nas unidades de saúde dos municípios em geral.


A doença não apresenta sintomas na fase inicial. Segundo a gastroenterologista Renata Quirino, médica do serviço de hepatologia do Hospital Onofre Lopes (HUOL), o paciente raramente sentirá algum sinal de alerta se a doença não estiver na fase aguda. “Na fase crítica ele poderá apresentar icterícia (pele e olhos amarelados), urina escura, náuseas, dor abdominal, enjoos, e fadiga”, diz.


A médica explica que as hepatites virais cursam de forma subclínica, especialmente as do tipo B e C, sendo diagnosticadas incidentalmente em exames de rotina, ou até que haja complicações como cirrose ou câncer de fígado, por exemplo. Em fases avançadas podem surgir sintomas graves, como aumento da barriga por acúmulo de líquido (ascite), confusão mental (encefalopatia hepática) e sangramentos digestivos (vômitos com sangue ou sangue nas fezes).


Para se chegar ao diagnóstico com mais exatidão, é preciso conhecer a situação em que cada tipo de hepatite viral pode ser transmitida. Renata Quirino explica que a hepatite A, por exemplo, é normalmente transmitida por via fecal-oral, ou seja, através de alimentos ou água contaminados, ou por contato pessoal próximo. Raramente é transmitida por via sexual.


Já a hepatite B tem transmissão vertical (mãe para o feto), parenteral (sangue) e também por secreções humanas incluindo saliva, líquido de feridas, e sêmen. “No Brasil, a via de transmissão mais comum de hepatite B é a sexual. A hepatite C tem como principal via de transmissão o sangue ou material contaminado por sangue”, completa.


O diagnóstico pode ser feito por testes rápidos, nos casos das hepatites B e C, ou por exames laboratoriais, quando se colhe a amostra de sangue – que pode incluir, neste caso, a pesquisa, também, do vírus A da hepatite. Renata diz que não há um consenso sobre a frequencia com que esses exames sejam realizados, mas o Ministério da Saúde (MS) orienta que toda pessoa acima de 20 anos e, que não esteja com cartão vacinal completo para hepatite B (suscetíveis), seja testado pelo menos uma vez na vida.


Outra estratégia de rastreamento se baseia na priorização de algumas populações mais vulneráveis à infecção pela hepatite B, como por exemplo, profissionais de saúde e de segurança pública; pessoas com antecedente de exposição percutânea/ parenteral a materiais biológicos que não obedeçam às normas de vigilância sanitária; pessoas privadas de liberdade ou em outras situações de restrição, trabalhadores do sexo e em situação de rua.


Se uma hepatite não for diagnosticada ou tratada a tempo, as consequencias podem ser diversas, segundo o tipo de vírus. “A hepatite A tende a ter uma evolução benigna e autolimitada. Já as hepatites B e C, principalmente a hepatite C, evolui para a cronicidade, ambas podendo progredir para cirrose e carcinoma hepatocelular”, alerta a médica.

Prevenção e tratamentos

As principais formas de prevenção incluem vacinas contra as hepatites A e B, uso de preservativos nas relações sexuais, não compartilhar agulhas, seringas, escovas de dente ou lâminas de barbear. Cuidados em procedimentos com risco de contato com sangue (tatuagens, piercings, manicure). Acesso a água tratada e boa higiene para prevenir a hepatite.


Houve muitos avanços nos tratamentos às hepatites virais ao longo do tempo. A gastroenterologista explica que as atuais alternativas terapêuticas para o tratamento da hepatite C, com registro no Brasil e incorporadas no SUS, apresentam alta efetividade terapêutica com taxa de cura de 94 a 99%. “O avanço está na medicação pangenotípica, que abrange todos os tipos de genótipos do vírus C, dispensando a necessidade da realização de exames de genotipagem pré-tratamento”, explica.


Em relação à hepatite B, apesar de não ter cura, a novidade é a atualização do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT 2023), e a incorporação de mais um medicamento, o Tenofovir alafenamida (TAF). Já a hepatite A geralmente é uma infecção leve e que se cura sozinha, porém o curso sintomático e a letalidade aumentam de acordo com a idade.


Segundo Renata, a estratégia de redução de exames exigidos proporciona a ampliação do acesso ao tratamento medicamentoso a todos os pacientes infectados pela hepatite C, sendo fundamental para o sucesso do ‘Plano para Eliminação da Hepatite C no Brasil’, uma meta mundial que visa eliminar o vírus até 2030.

Vírus silencioso

A forma silenciosa com que a hepatite se manifesta, teve efeitos diversos na família de Walter Bento de Lima, funcionário público aposentado. O irmão sentiu fortes dores na altura do abdome, foi internado e faleceu em torno de 40 dias. Ele tinha cirrose causada por hepatite C. Um trauma familiar que foi revivido tempos depois, quando um exame de sangue de Walter registrou uma alteração estranha. Após uma elastografia hepática, foi encontrada a hepatite C.


“Eu não sentia nada, não tinha sintomas. Mas fiquei muito abalado, chorei. Lembrei do que tinha acontecido com meu irmão”, conta. No entanto, Walter foi devidamente medicado, e teve sua carga viral zerada. Desde então ele faz exame de imagem uma vez por ano no abdômen para ver o estado do fígado, e exame de sangue de seis em seis meses. “Tenho 75 anos, uma boa qualidade de vida, sem sintomas da hepatite, mas me mantenho sempre atento”, conclui.

Foto: Aléx Regis

Tribuna do Norte

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