RN registrou 121 acidentes fatais com ciclistas nos últimos cinco anos

Para especialistas, a falta de estrutura nas cidades aliada à imprudência no trânsito são fatores de risco para ciclistas | Foto: Alex Régis

A morte trágica de um ciclista na avenida Salgado Filho, em Natal, reacendeu o debate sobre a segurança viária para ciclistas e amantes da bicicleta no Rio Grande do Norte. Segundo números da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesed), o RN registrou a morte de pelo menos 121 ciclistas em todo o Estado nos últimos cinco anos. Para especialistas e entidades representativas de ciclistas no Estado, a falta de estrutura nas cidades aliada à imprudência no transito e desconhecimento da legislação são fatores que ocasionam a crescente na morte dos ciclistas.
Em 2025, o RN já registra casos de mortes em Mossoró, Natal e atropelamentos em Extremoz, Parnamirim e em outras cidades. Na semana passada, um homem de 29 anos foi preso em Extremoz, após atropelar dois ciclistas. Uma das vítimas sofreu ferimentos graves.

Segundo o presidente da Associação dos Ciclistas do Rio Grande do Norte (Acirn), Fabiano Silva, os casos envolvendo acidentes com ciclistas têm crescido ano a ano desde a pandemia, que fez o número de ciclistas nas ruas disparar. “Encaramos isso com enorme preocupação esses sinistros de trânsito. Esse período de pandemia dobrou o número de ciclistas nas ruas, com as pessoas evitando o transporte público por conta das questões sanitárias e indo para as ruas através de bicicletas. É o lado bom da coisa, mas os números de acidentes com ciclistas aumentou”, cita. Ele acrescenta ainda que o que tem ocasionado os acidentes no Estado e em Natal é a falta de estrutura e segurança viária.

Segundo o inspetor de trânsito Kaasten Carlos, da Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal, é importante que motoristas se conscientizem cada vez mais acerca da legislação de trânsito, que em artigos específicos, protege os ciclistas.

“Temos o artigo 201 que fala que qualquer motorista deve manter distância mínima de 1,5m ao ultrapassar um ciclista. Temos ainda o artigo 220 em que o condutor reduza a velocidade. Quando o agente não observa que essa regra está sendo seguida, ocorre a infração, e ele autua o condutor infrator. Para onde existe infraestrutura cicloviária, temos em Natal o artigo 193, que proíbe qualquer outro veículo que não a bicicleta, trafegando em ciclovia ou ciclofaixa. A multa é de R$ 880 e 7 pontos na carteira”, explica.

Recentemente, a cidade de Natal chegou a registrar 100km de em ciclovias e ciclofaixas espalhadas em várias ruas e regiões da cidade. Os avanços recentes, que fazem parte do Plano Cicloviário de Natal, tem como objetivo garantir a segurança e a melhoria dos deslocamentos feitos pelos usuários de bicicletas no município, além de oferecer conectividade deste modal com outros modais de transportes.

Em entrevista à Jovem Pan News Natal, a especialista em gestão de infraestruturas e engenheira civil, Isabel Magalhães Amorim, disse que, embora Natal tenha registrado avanços significativos na implementação de infraestrutura para pedestres e ciclistas, como faixas de pedestres em meio de quadra e ciclovias, os desafios relacionados à segurança persistem. Ela atribui essa dificuldade a uma cultura nacional que privilegia o uso de automóveis particulares, dificultando a plena integração de outros modais no trânsito.

“Infelizmente, essa não é uma questão exclusiva de Natal, mas um reflexo de um problema cultural enraizado no Brasil. Nossa sociedade ainda possui uma mentalidade fortemente rodoviarista, com foco no uso do automóvel particular”, explica.

Em uma tarde de observação em ruas de grande circulação na capital, é possível observar ciclistas driblando os carros e motos em busca de espaço e em muitos casos, dividindo faixas com ônibus. Na maioria dos casos, o respeito não é sentido pelos ciclistas.

“Eu percebo que precisamos de mais ciclovias, porque divide-se as passagens dos ônibus com bicicletas. Mesmo ele dando um espaçozinho, o vento e a velocidade podem causar acidentes. E eu que ando com cargas pesadas fico numa situação ainda pior. Graças a Deus nunca tive acidente, mas quando vejo carro grande já vou para calçada”, explica o entregador de uma conveniência na zona sul, Josinaldo Faustino, 48 anos.

O caso

Um médico oftalmologista identificado como Araken Britto morreu na manhã desta segunda-feira (24) após ser atropelado por um caminhão enquanto trafegava na avenida Hermes da Fonseca, no sentido Centro/zona Sul, em Natal.

Ele estava pedalando uma bicicleta junto a outros ciclistas, por volta das 5h30, no momento do acidente em que foi atingido pelo veículo e morreu no local. Araken Britto, renomado médico oftalmologista, era conhecido não apenas por sua carreira na medicina, mas também por sua paixão pelo ciclismo. Regularmente, o profissional participava de passeios que reuniam até 20 ciclistas, prática que realizava pelo menos duas vezes por semana, partindo do bairro da Ribeira.

O motorista da carreta envolvido no acidente prestou depoimento na delegacia e foi liberado. No momento do acidente, ele fez teste do bafômetro, que acusou negativo. A Polícia Civil disse ainda que o motorista era habilitado para dirigir o veículo. A informação foi confirmada pela Polícia Civil, que disse ter realizado os procedimentos legais. O caso é investigado pela Delegacia Especializada em Crimes de Trânsito (DECT).

Em nota, a Federação Norte-Rio-Grandense de Ciclismo lamentou a morte do médico e pediu providências. “Apelamos a todos os motoristas, ciclistas e pedestres: precisamos cultivar uma cultura de respeito mútuo. É essencial que promovamos o entendimento de que todos têm o direito de circular com segurança. As ruas são para todos, e somente através da conscientização e do respeito podemos construir um ambiente mais seguro para todos os usuários do trânsito”, disse no comunicado.

Tribuna do Norte

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